São já vários os grupos de interessados junto das cooperativasde habitação económica que estão a desenvolver estudos para avançarem com projetos decohousing, um novo modelo de habitação destinada a seniores navida ativa.
A Cooperativa Sete Bicas, em Matosinhos,um grupo de pessoas em Sesimbra, outro em Aveiro e um quarto grupo em Lagos, no Barlavento algarvio, são, segundo GuilhermeVilaverde, presidente da Fenache (Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica), algumas das primeiras manifestações de interesse na promoção de projetos de cohousing, mas queacredita serão o embrião de dezenasou centenas que vão aparecernos próximos meses no país, obedecendoa um modelo de construçãocooperativa.
Basta para tanto recordar que,neste momento, parte significativa dos cooperantes que compraram apartamentos ou moradias nos empreendimentos promovidos pelas cooperativas se encontram na casados 60/70 anos e muitos procura muma solução alternativa, que ofereça outras condições.
“Nós prestamos todas as informaçõese procedimentos necessários para que os grupos de cidadãos, ligados à construção cooperativa, avancem com a formação da sua própria cooperativa”, destaca Guilherme Vilaverde. O cohousing, que surgiu na décadade 70 na Dinamarca, caracteriza-se por ser uma alternativa ao modelo de habitar tradicional. Há vários modelos de cohousing, contudo a ideia é os moradores terem as casas individuais privadas, normalmente pequenas tipologias,mas disporem de espaços comuns que são considerados complementos das suas áreas privadas. O objetivo é, claro está, aproximar os moradores, diminuir o custo de vida, promover o sentimento de partilha e reciclar recursos.
Recentemente, o tema começou a ser mais debatido devido à realização no Porto da conferência internacional Cohousing em Portugal, Viver Sustentável, organizada pela Hac.Ora, uma associação sem fins lucrativos, fundada em 2018, e que tem à frente Nuno Cardoso, ex-presidente da Câmara Municipal do Porto.
Guilherme Vilaverde destaca o facto de nos últimos anos ter sido confrontado por muitos dos cooperantes que gostariam de vender a sua casa e avançar com outra solução que permita que “deixem de viver isoladas”, mas, ao mesmo tempo, adiando a entrada num lar onde a maioria só quer ir quando está numa situação de grande dependência.
“O foco da construção cooperativa foi a classe média e média baixa, que comprou casa há 30 a 40 anos, e em muitos casos os casais estão reféns da moradia ou do apartamento, que é demasiado grande e que já não apresenta as condições ideais”, destaca.
As Sete Bicas com lista de interessados
A cooperativa As Sete Bicas, localizada na Senhora da Hora, está já numa fase mais avançada em relação ao avanço de um projeto decohousing. “Temos uma lista de interessados e temos duas soluções urbanísticas em estudo”, diz o responsável, considerando ser ainda prematuro apontar mais pormenores.
Contudo, destaca, “queremos projetar um edifício bem localizado, perto dos equipamentos, com 40 a 60 frações, T0 e T1, mas será o grupo de interessados a escolher a localização”, diz.
Também em fase de decisão estão pormenores importantes sobre a própria gestão deste tipo de projetos, tendo em conta que há ainda um longo caminho a traçar em aspetos ligados com o licenciamento, financiamento e construção. Uma certeza tem Vilaverde: “temos um potencial muito grande, com muitos interessados, e tal como aconteceu com a construção cooperativa, estamos convictos de que os primeiros projetos vão surgirem breve no Porto, Lisboa e Algarve”.
Para Guilherme Vilaverde, o cohousing é uma nova solução de alojamento que faz todo o sentido para as cooperativas, já que este conceito aponta para o agrupamento de pessoas, por laços de camaradagem, que pode ser geracional ou intergeracional, mas onde as pessoas vivem com condições diferentes.
Modelos e soluções de financiamento diversas
São várias as iniciativas de construção de projetos de cohousing que estão a aparecer, bem como as soluções para a sua concretização.“Estamos na fase de partir pedra”. Acrescenta “não podemos partir para soluções fechadas, mas sim deixar a iniciativa aos grupos que surgem”, diz Vilaverde. Um dos aspetos tem a ver também com o modelo de financiamento,que vai ser diferente em função dos grupos. “Pode haver projetos em que são proprietários da sua própria fração, aplicando as suas poupanças, outros preferem o arrendamento”. Contudo, Guilherme Vilaverde destaca que, no caso da cooperativa, “pensamos que não deve haver direito à propriedade plena, sim a um direito de entrada e ao seu usufruto”. Frisando que “deve haver um serviço base e depois um conjunto de outros serviços pagos à parte”.
ELISABETE SOARES
(Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.)